terça-feira, 27 de outubro de 2009

Oficina Teatral Artaudiana

Confirmação semanal para participação na oficina



Se você deseja participar gratuitamente da oficina do dia 03 de novembro, terça-feira, das 19 às 22 horas, na sala 303 do Centro de Artes Calouste Gulbenkian, deixe seu nome e e-mail nos comentários, com o cuidado de não ser o décimo terceiro inscrito, pois os exercícios se destinam apenas aos doze primeiros participantes inscritos.

Lembre-se que esta é uma confirmação semanal, onde você se compromete a participar do próximo encontro, dia 03 de novembro. Ao deixar seu nome e e-mail nos comentários, você estará assumindo a responsabilidade de estar presente na oficina, impedindo que outro ator se exercite conosco.

Venha com disponibilidade e desejo de realizar um desnudamento profundo de corpo e alma, se exercitando como ator e revigorando a sua opção vital pela arte do teatro. Merda pra todos nós e que os deuses do teatro nos abençoem.




quarta-feira, 30 de setembro de 2009


" E assim, baqueio do desejo
ao gozo. E no gozo arfo,
a ansiar pelo desejo. " Goethe

O DESEJO DO TEATRO

O desejo é complexo, tem meandros, mas é, sem dúvida, o que nos põe em movimento. É o motor das conquistas humanas. É nossa vontade ardente, querência, fantasia, aspirações, inspirações e tudo que nos dá a certeza de que o próximo minuto vai valer a pena. Desejo é o que nos tira da cama, nos leva para a cama e nos deixa de cama. Está na raiz das obsessões, depressões, invejas, crimes. Por isso valorizamos alguns, incentivamos outros e tentamos deixar em estado de latência outros, os proibidos. Religião, civilidade, culpa.

Tudo, na existência humana, diria Freud, gira em torno do desejo. Ou do falo, a vara de condão de toda criação, replicaria embriagado de vinho Dionísio!

Se os sonhos são realizações do desejo, assim também é a arte. E a ciência! Não são elasprojeções dos nossos desejos? Cartografias das nossas lacunas, ausências e vazios? Ouso dizer que produzimos artisticamente tantas obras primas quanto seja vital nosso desejo, nosso desejo em desejar, nosso desejo em materializá-las. Mas há que ter desejo de artista!

O teatro nasceu do desejo. Do desejo do homem em ser múltiplo numa só existência. Religião?  Do desejo de celebrar a vida tonto de vinho num ritual fálico. Talvez por isso seja o teatro a linguagem artística que melhor evidencia o desejo de preservação e continuidade da espécie humana. Nasceu do desejo do homem em ser deus através do seu poder de criação. Mas poucos são os artistas. Raríssimos têm disponibilidade de tocar com verdade visceral sua vara mágica. Por isso tão pouca criação. Obra prima. Como deus. Como Téspis.

Quanto maior o desejo pelo teatro, quanto maior a pulsão, a paudurência, maior a entrega do ator ao personagem, condição indispensável à criação de fato ou de falo, à obra prima, única.

Nos textos dramáticos de Plínio Marcos, há a exposição do que há de mais primitivo no desejo humano. Do desejo instintivo reprimido e que apodrece dentro das personagens. Do desejo que tem que se tornar carne e osso como salvação. Há de acontecer a catarse. Barrela.

Atores disponíveis para um desnudamento total e em franco desejo de criar a obra prima estamos em processo de busca, todas às terças-feiras no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, pelos personagens de Barrela. Torná-los carne, osso e realidade emocional e social. Estamos em comunhão através desse desejo vital de nos encontrarmos conosco mesmos, com os personagens, com os demais atores, com a demiúrgica criação teatral e, em breve, com o público. Quer comungar conosco? Está convidado, se o seu desejo também pulsa de forma vital pelo teatro.

Barrela e todo esse processo reacendem e ratificam o nosso desejo pelo teatro, pois têm nos possibilitado, não sem certa crueldade, um estado poético só possível com o amor, as drogas ou o crime, para citar Antonin Artaud. E você? Quer esfregar o falo, quer dizer, a lâmpada mágica e ter direito a três desejos?


Pedro Henrique Brandão



sábado, 26 de setembro de 2009

Work in progress


Quer vivenciar um processo artaudiano na costrução dos personagens de Barrela? Está disponível para realizar um desnudamento de corpo e alma na construção do que Antonin Artaud chamou de criação total? Então esse convite, totalmente gratuito, é pra você...



No entanto, são só doze vagas, distribuídas aos primeiros que chegarem ao local, renováveis em cada encontro, em cada terça-feira.

O objetivo é produzir uma apresentação única ainda esse ano como homenagem aos cinquenta anos do texto e lembrança aos dez anos de falecimento do dramaturgo e também um curtametragem com adaptação do texto da peça para ser exibido num evento em 30 de novembro, além de selecionar atores para a montagem para longa temporada no próximo ano.


Venha participar desse desafio como ator! Merda sempre!

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Um processo com o ator...


UM POUCO DE ARTAUD

No teatro contemporâneo do Rio de Janeiro, talvez nenhum encenador, no tocante à descoberta das personagens com seus atores, conduza seus encontros e ensaios em consonância com apenas um princípio  ou método de um dos mestres da prática teatral, como Jerzy Grotowski, Stanislavski, salvo raríssimas exceções. Antes, estabelecem em seus processos uma soma de conhecimentos e experiências capazes de motivar uma atuação criativa ou simplesmente se utilizam de fórmulas estabelecidas sem fomentar nos atores a emergência de um trabalho de criação único.



Jonas França em ensaio de Barrela

Além disso, muitos atores, motivados por um processo de criação televisivo e instantâneo, extremamente naturalista, ou por um mercado de trabalho competitivo, urgente e congestionado, não estão disponíveis para exercitar com delicadeza o processo de descoberta, experimentações, aprofundamento e nascimento de uma personagem. E não há nada mais prazeroso e divino que se permitir esse trajeto preparatório ao parto, à cena, à ação diante do público! Teatro é encontro, já disse Grotowski. Um encontro de comunhão conosco mesmos, com a personagem, com os outros atores e com o público.

No processo de ensaios de Barrela, os atores estão se permitindo uma experiência de investigação própria em busca de uma criação única, transgredindo seus limites em busca de uma criação total, evocando Artaud com a permissão dos deuses do teatro. Como resultado, pretendemos uma expressividade direta, franca, sem máscaras ou pudores, assim como é o próprio texto de Plínio Marcos. Podemos denominar Crueldade essa busca, exposição física e emocional e produção de imagens violentas? Talvez sim, se entendermos que Artaud preconizava a cena como uma equivalente da vida, sempre transcendente, como um crime, uma droga, um estado poético.


Vitor Perales em ensaio de Barrela

Para Artaud, os atores são atletas do coração, da afetividade e da paixão. E todo impulso criativo deve ter sua origem num impulso físico, onde a tensão, o esforço e a respiração são veículos imprescindíveis na busca da expressão plena. E estamos nesse processo em Barrela, principalmente porque estamos apaixonados pelo projeto, ampliando assim a disponibilidade e a possibilidade de atuação. Paixão tem sido fundamental, sem descartar a reflexão e o estudo "científico" do processo.

Desejamos ardentemente que esse encontro de tantas manifestações plenas de paixão nos ensaios produza uma montagem visceral, realista, capaz de atingir os sentidos do público. Esperamos poder comungar também com o público em breve. Merda!


domingo, 13 de setembro de 2009

Barrela

BARRELA
Plínio Marcos inaugura na cena teatral brasileira um realismo primitivo, sem concessões às normas teatrais estabelecidas, utilizando como matéria prima de sua criação a vida dos marginalizados da sociedade. Assim, ao escrever textos dramáticos, Plínio Marcos enfatizou a profunda contundência e crueza vocabular peculiar desses personagens reais. Barrela é um dos maiores exemplos da sua sinceridade expressiva e de seu extremo realismo.
A montagem de Barrela que estamos trazendo à luz dos refletores é uma homenagem ao dramaturgo em seus dez anos de falecimento, reconhecimento de sua relevante contribuição à consolidação de um teatro essencialmente brasileiro e comemoração dos cinquenta anos da primeira apresentação da peça, no Festival de Teatro Estudantil, em Santos, em 1959. Propomos, para isso, um resgate à essencialidade do texto criado por Plínio Marcos, numa montagem visceral e de acentuado realismo, em justiça à indignação criativa do dramaturgo frente aos injustos padrões sociais estabelecidos.
Plínio Marcos emergiu no cenário teatral brasileiro num momento em que o Brasil estava mergulhado na repressão da ditadura militar como um arauto de todos os marginalizados expulsos da sociedade pela ordem dominante. Barrela, sua peça teatral de estreia na dramaturgia, mostra uma noite numa cela de prisão, na qual um jovem é encarcerado por motivo torpe junto a detentos condenados por crimes mais contundentes e por eles é violentado, jogando luz sobre o oprimido em face ao poder instituído.
Segundo Antonin Artaud, o teatro foi feito para abrir coletivamente abcessos e este ensinamento define precisamente o que propomos nesta montagem de Barrela. Ou pode ser definida pelo próprio autor, quando ele preconiza que faz teatro para incomodar os que estão sossegados. Não obstante a montagem teatral de diversos textos de Plínio Marcos e algumas transposições para o cinema com o fim da censura, o que desejamos é resgatar para os brasileiros o que há de mais característico e essencial em sua obra, devolvendo-os o olhar do dramaturgo, capturado deles próprios. Merda!
Milton Filho e Marcello Matos em ensaio de Barrela