sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Um processo com o ator...


UM POUCO DE ARTAUD

No teatro contemporâneo do Rio de Janeiro, talvez nenhum encenador, no tocante à descoberta das personagens com seus atores, conduza seus encontros e ensaios em consonância com apenas um princípio  ou método de um dos mestres da prática teatral, como Jerzy Grotowski, Stanislavski, salvo raríssimas exceções. Antes, estabelecem em seus processos uma soma de conhecimentos e experiências capazes de motivar uma atuação criativa ou simplesmente se utilizam de fórmulas estabelecidas sem fomentar nos atores a emergência de um trabalho de criação único.



Jonas França em ensaio de Barrela

Além disso, muitos atores, motivados por um processo de criação televisivo e instantâneo, extremamente naturalista, ou por um mercado de trabalho competitivo, urgente e congestionado, não estão disponíveis para exercitar com delicadeza o processo de descoberta, experimentações, aprofundamento e nascimento de uma personagem. E não há nada mais prazeroso e divino que se permitir esse trajeto preparatório ao parto, à cena, à ação diante do público! Teatro é encontro, já disse Grotowski. Um encontro de comunhão conosco mesmos, com a personagem, com os outros atores e com o público.

No processo de ensaios de Barrela, os atores estão se permitindo uma experiência de investigação própria em busca de uma criação única, transgredindo seus limites em busca de uma criação total, evocando Artaud com a permissão dos deuses do teatro. Como resultado, pretendemos uma expressividade direta, franca, sem máscaras ou pudores, assim como é o próprio texto de Plínio Marcos. Podemos denominar Crueldade essa busca, exposição física e emocional e produção de imagens violentas? Talvez sim, se entendermos que Artaud preconizava a cena como uma equivalente da vida, sempre transcendente, como um crime, uma droga, um estado poético.


Vitor Perales em ensaio de Barrela

Para Artaud, os atores são atletas do coração, da afetividade e da paixão. E todo impulso criativo deve ter sua origem num impulso físico, onde a tensão, o esforço e a respiração são veículos imprescindíveis na busca da expressão plena. E estamos nesse processo em Barrela, principalmente porque estamos apaixonados pelo projeto, ampliando assim a disponibilidade e a possibilidade de atuação. Paixão tem sido fundamental, sem descartar a reflexão e o estudo "científico" do processo.

Desejamos ardentemente que esse encontro de tantas manifestações plenas de paixão nos ensaios produza uma montagem visceral, realista, capaz de atingir os sentidos do público. Esperamos poder comungar também com o público em breve. Merda!


2 comentários:

  1. Oi Fabio,
    tudo bem?
    eu não tenho o teu email.
    queria te convidar para assistir o festival de mulheres que eu participo
    http://artescenicas.blogspot.com
    tem detalhes.
    Bjs.
    PS Gostei do novo blog.

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  2. Essa montagem tua eu quero assistir. Gostei muito do textto sobre Artaud. Bjs.

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